O superintendente da Associação Comercial e de Inovação de Marília, José Augusto Gomes, está sugerindo ao empresariado em geral, bastante cautela, apesar do crescimento de 7,9% neste primeiro semestre de 2025, comparado ao igual período do ano passado. O dirigente da associação comercial mariliense acredita que os resultados de junho evidenciam uma tendência de desaceleração do setor, de acordo com a Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (PCCV), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). “O segundo semestre do ano sempre é melhor que o primeiro, porém, o momento é de cautela e de não abusar”, disse José Augusto Gomes que prefere ser surpreendido positivamente. “Quando a economia e a política estão instáveis, é melhor se precaver”, ensinou.
De acordo com a pesquisa publicada, a tendência semelhante é observada na cidade de São Paulo, com expansão de 7,7% nas vendas ao longo do semestre, mas de ritmo mais lento em junho (4,8%) em relação ao mesmo mês de 2024. “A capital dita o ritmo e a tendência”, defende José Augusto Gomes ao observar o comércio paulistano e ter como base o restante do país. Na avaliação da FecomercioSP é de que, se por um lado o mercado de trabalho em bom momento e a renda melhor sustentaram o consumo, por outro o ciclo de altas da taxa Selic (ela está em 15% hoje), a inflação acima do teto da meta e o crescimento da inadimplência já impactaram negativamente as vendas de alguns segmentos, principalmente os que comercializam bens duráveis – em que a compra depende de crédito, o que compromete o orçamento doméstico durante meses. “Dai o sinal de alerta. Cautela. Muita cautela”, frisou José Augusto Gomes.
No Estado de São Paulo, por exemplo, concessionárias de veículos e das lojas de móveis e decoração recuaram 0,8% e 9,9%, respectivamente, em junho. A expectativa é que essa tendência de desaceleração, e até mesmo de queda nas vendas de algumas atividades, permaneça no segundo semestre, apesar de sempre ser o melhor período do ano, com datas comemorativas fortes como: Dia dos Pais, Dia das Crianças, “Black Friday” e Natal. “Os fatores econômicos que impulsionaram a retomada do setor de 2023 em diante, como a elevação da renda média, a recuperação do emprego e a inflação mais controlada, perderam fôlego agora”, explicou José Augusto Gomes que vem acompanhando a performance do varejo mês a mês. “O mercado de trabalho tende a se acomodar no nível atual, enquanto o crédito está ficando mais caro e o endividamento das famílias está voltando a subir (em agosto, 71,5% dos lares paulistanos estavam com dívidas e 22,1% tinham contas atrasadas, segundo a PEIC, da FecomercioSP)”, argumentou o dirigente da associação comercial de Marília.
Ainda dentro da pesquisa, José Augusto Gomes observa que no balanço semestral, as nove atividades que compõem a base pesquisada tiveram elevação, com destaque para as lojas de vestuário, tecidos e calçados (alta de 15,4% no faturamento) e para autopeças e acessórios para veículos (10,8%). No acumulado do primeiro semestre, o crescimento de 7,9% representa um faturamento R$ 54,5 bilhões superior em relação ao mesmo período do ano passado. “Na verdade, esses números apontam para uma desaceleração mais intensa e precoce na capital, cujos sinais ainda são mais tímidos no interior, onde farmácias e materiais de construção, por exemplo, dão vitalidade ao varejo”, comentou. “Essa diferença sugere que a metrópole tende a ser mais sujeita às oscilações macroeconômicas, como o encarecimento do crédito, por exemplo. No Estado, como a demanda é mais distribuída, tende a ser mais resiliente também”, disse de forma esperançosa.